CALENDÁRIO DO ADVENTO COM CONTOS - DIA 11

Só uma lembrancinha, de Margarida Fonseca Santos

 "A madrinha há de desculpar, que é coisa pouca, só uma lembracinha lá da terra. Ora, não é nada muita fruta, olha só o disparate, madrinha, é para os meninos, que eu bem sei que eles gostam, já estão crescidos, os meus meninos. Lá na terra toda a gente os conhece, que eu tenho tanto orgulho nos meus meninos. Conto tantas histórias dos meus meninos, madrinha, meu Deus, que até aquele gente se enche toda de inveja. Pois, eu sei que já estão uns homens, mas o que é que a madrinha quer?, fui eu que os criei, quer-se dizer, foi a madrinha, mas eu estava cá o resto do dia, sempre a tratar dos meus meninos, tão malandros mas tão lindos. Já vai para três anos que não os vejo, mas há de ser qualquer dia. A madrinha desculpe a lembrancinha, ora muito nada!, é uma frutinha para as festas, que eu sei que a madrinha tem cá sempre tanta gente em casa. Ainda m’alembra os copos de cristal a brilhar nas minhas mãos, e eu com medo de os partir, que noites de Natal como as de cá nunca vi, com tanta gente, tanta fartança, tanta prenda. E os meninos também vêm cá? Ah, agora tem que ser um ano em cada lado, já se sabe, pois é, a família vai crescendo, mas boa gente, não é?, a madrinha acha que casaram bem? Ai, Deus queira, os meus meninos. É uma pena ainda não terem netinhos, a madrinha e o senhor doutor haviam de gostar, mas é, pois, têm tempo. Já não há Marias para tomar conta, isso é verdade, não estivesse eu tão entrevada deste braço e ia eu lá para casa para tomar conta dos bebés, havia a madrinha de ver como eu ainda me ajeito. Isto do braço?, eu não contei à madrinha? Pois foi no Natal do outro ano, a madrinha alembra-se que eu vim cá com o meu Alcides e vamos a voltar para casa e toca o carro de se ficar na subida da serra, a madrinha está a ver aquela subida, onde até há uma casa de desavergonhadas ali perto da estrada, a madrinha não reparou, pois, gente de bem não repara nestas coisas, mas estão lá que é uma pouca-vergonha, mas ia eu a contar que se nos ficou o carro na subida e nada de pegar, o Alcides todo arreliado e eu que tenho medo que se lhe arrebente o coração, que o doutor disse que ele não se podia enervar, e nada de andar, o raio do carro já não se mexeu mais e nós tivemos de ir às desavergonhadas pedir para telefonar e elas ainda se meteram com o Alcides, a fazerem-lhe festas nas costas para o acalmar. 

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