CALENDÁRIO DO ADVENTO COM CONTOS - DIA 6

 Sonhos de Natal, de António Mota

Eu nasci e vivi alguns anos numa aldeia muito pequena escondida por uma enorme mancha de altos pinheiros e carvalhos gigantescos. Pedra de Hera era o nome dessa aldeia.

Todos os anos, com a chegada do Outono, da chuva e dos fortes ventos, as castanhas desprendiam-se dos redondos ouriços que enfeitavam os castanheiros centenários que havia espalhados por toda a Pedra de Hera. Sem as castanhas, os ouriços abertos lá no cimo dos castanheiros faziam-me lembrar ninhos cobertos por picos. E as folhas amarelecidas pareciam cobertores pequeninos a secar ao sol.

Com o passar dos dias e das noites cada vez mais frios, a chuva e as medonhas rajadas de vento punham as copas das árvores a abanar e faziam calar o canto dos pássaros.

As folhas dos castanheiros voavam em todas as direcções, como se fossem as borboletas da Primavera. Acabavam por cair em cima dos telhados, nos pátios, nos campos e nos caminhos estreitos, onde, além dos homens, mulheres e crianças, também passavam as cabras e as ovelhas, as vacas, os cães, os gatos, as raposas, os ratos do monte, as doninhas, os coelhos bravos e os javalis.

Quando os ramos dos castanheiros ficavam sem folhas, às vezes a minha pequena Pedra de Hera ficava coberta por um imenso manto de nuvens muito cinzentas.

O vento deixava de soprar, e os pássaros festejavam esse tempo tão sereno com as suas tímidas cantorias. Os camponeses apressavam os trabalhos nos campos e nas matas. Punham bastante comida nos estábulos dos animais. Depois iam sentar-se em frente da lenha que ardia calmamente nas lareiras de pedra, queimadas pelas fogueiras de muitos e muitos anos.

Nós, as crianças, começávamos a dar grandes gargalhadas e a saltar de contentes porque sabíamos que a neve não demoraria a chegar. Flocos ainda mais brancos do que as rocas de açúcar desceriam das nuvens, bailariam no ar e cairiam no chão.

E assim acontecia. De repente, os flocos de neve apareciam. E eram tantos e tantos e tantos, dançando e caindo de mansinho, que daí a pouco os caminhos, os campos, as matas e os telhados ficavam brancos.

Às vezes, a neve caía de noite sem fazer barulho.

CONTINUAR A LER AQUI OU NO LIVRO QUE ENCONTRAS NA TUA BE

Comentários