CONCIL - APRESENTAÇÃO DE PERSONAGEM

A Elisa Lopes, 11.º C, participou na fase concelhia do Concurso Interconcelhio de Leitura onde obteve o 2.º lugar com uma prova de leitura expressiva e uma prova de apresentação de uma personagem do livro lido, Vinte e zinco, de Mia Couto.

Eis a sua apresentação:

Vou apresentar-vos a personagem Irene da obra Vinte e zinco, de Mia Couto. 

Irene é a irmã de Margarida, tia de Lourenço, que se mudou para Moçambique após a morte de Joaquim, pai de Lourenço, para ajudar a sua irmã. Irene é uma mulher jovem, bela, alegre, atraente e feminista, que luta pela liberdade e igualdade, e que aprecia os prazeres da vida. Apesar de pertencer à classe dominante- é uma branca portuguesa- é criticada pelos seus compatriotas por, vejam lá a sua loucura, respeitar os moçambicanos. Ao contrário dos outros portugueses, Irene não se vê como superior aos africanos, como se os dominasse. Age, apenas, com a curiosidade de quem conhece um mundo novo. Irene “misturava-se com os negros”, aprendendo sobre a sua cultura e tradições, acabando por se envolver romanticamente com um mulato da terra, Marcelino. É esta personagem que incendeia em Irene o desejo de lutar contra o domínio português em África, fornecendo informação da PIDE à Frente de Libertação Moçambicana, evento que levaria à morte de Marcelino e à total enraização de Irene na cultura moçambicana. Irene convive com Jessumina e Andaré, envolve-se na lama, dança ao ritmo africano, acredita nas suas tradições e na magia dessa terra. Irene despreza as atitudes do seu sobrinho e defende a igualdade dos negros. A obra termina com Irene a entrar no lago com Jessumina, lago que, segundo a tradição africana, trazia grandes conhecimentos, após uma morte suspeita de Lourenço.

Assim, Irene é uma personagem muito intrigante. Em primeiro lugar, pelo seu comportamento peculiar: ao contrário dos outros portugueses, que impunham a sua cultura, Irene abraça as crenças moçambicanas e identifica-se com os seus princípios. Olha para os moçambicanos como seus iguais e luta pela sua liberdade, o que, muitas vezes, gera conflitos entre ela e seu sobrinho, Lourenço. Mostra-nos, assim, como, embora sejamos diferentes, na cor, cultura e na tradição, continuamos a ser todos humanos. Abolindo a discriminação, é-nos possível conviver com qualquer cultura. Muitos portugueses abandonam Moçambique após o 25 de abril, mas Irene fica. Assim, verifica-se a libertação de Moçambique do domínio português, mas, simultaneamente, a aceitação da terra por aqueles que a respeitam. Esta é uma personagem que também chama a atenção pelo seu possível envolvimento na morte de Lourenço, assassinado por um da sua raça, numa sala que transmite um odor feminino familiar a Andaré, que vira Irene a entrar no lago. Terá, então, Irene assassinado o sobrinho por vingança, por Marcelino e todo o povo moçambicano que este oprimira?

O livro deixa-nos essa questão em aberto, mas indicia que Irene o tenha feito, o que se apresenta como a queda de um regime, representado por Lourenço.



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