CONCIL - APRESENTAÇÃO DE PERSONAGEM

O Rafael Moreira, 11.º C, participou na fase concelhia do Concurso Interconcelhio de Leitura onde obteve o 1.º lugar com uma prova de leitura expressiva e uma prova de apresentação de uma personagem do livro lido, Vinte e zinco, de Mia Couto.

Eis a sua apresentação:

Em 1999, Mia Couto publicou o livro Vinte e Zinco, mostrando-nos como o 25 de abril foi vivido em África, através dos olhos de personagens fantásticas e misteriosas. Neste elenco, houve uma figura que, para mim, assumiu um destaque especial. É descrito como frio. É calculista. Extremamente racista, até. E não consegue dormir sem o seu paninho e o seu cavalinho de brincar.

Para quem ainda não está familiarizado com esta obra, estou a falar de Lourenço de Castro. Mas, quem é Lourenço? ~

Filho de Joaquim de Castro e de Dona Madalena, este homem português, residente numa pequena vila em Moçambique, decide seguir as pisadas de seu pai e tornar-se um agente da PIDE, de modo a provar que era maduro o suficiente para o cargo. Quando novo, testemunhou a morte de seu pai, enquanto este executava prisioneiros nativos. A partir daí, sonhava sempre com esse momento, apresentando também feridas no corpo que sangravam de um modo inexplicável. Também possui uma relação tensa com a sua tia Irene, a qual convivia com o povo de Moçambique. Após o golpe de Estado que se deu em Portugal e que aboliu o Estado Novo, este opõe-se ao regresso da família a Portugal, apesar de a organização para a qual trabalhava ter deixado de existir.

Ao ler-se esta obra, uma pequena característica desta personagem torna-se evidente para mim: a sua sensibilidade. Apesar de a sua profissão envolver atrocidades, como a tortura, não é ele que a realiza, deixando essa função para os seus adjuntos. Na verdade, em certo momento, deixa a entender que preferia que os prisioneiros não fossem sujeitos àquela dor. “Por que não confessam? Custava alguma coisa...”, foram as palavras usadas. Isto pode ser resultado do facto de ter espancado Marcelino, amante da sua tia que conspirava com a Frente de Libertação de Moçambique, de tal modo que levou ao seu suicídio, algo que o traumatizara. Além disso, o respeito pelo seu falecido pai também é objeto de grande foco. Assim, a revelação de que o seu progenitor estuprava os seus prisioneiros foi o grande ponto de viragem desta personagem, levando-o a libertar toda a gente que prendera, contra os conselhos de Andaré Tchuvisko, homem que Joaquim cegara quando o vira a abusar dos prisioneiros, pois acreditava que isso levaria à sua morte. De facto, Lourenço acaba por morrer, mas não às mãos dos presos. Na verdade, acredito que fora sua tia quem o matara, pois o cego menciona sentir um cheiro “familiar”, de “mulher”.

Concluindo, Lourenço de Castro é uma personagem bastante marcante, representando todos aqueles que seguiam o antigo regime cegamente. Assombrado pela figura de seu pai, apesar de ser um homem frio e dedicado ao trabalho, apresenta uma elevada infantilidade e necessidade de carinho, resultante de um pai que não o valorizava.


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