RÓMULO DE CARVALHO /ANTÓNIO GEDEÃO: DOIS NOMES, A MESMA PESSOA

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Hoje, é Dia da Cultura Científica em homenagem a António Gedeão, nascido a 24 de novembro de 1906.

 “Nasceu Rómulo, como o lendário fundador da cidade de Roma, mas foi como António Gedeão que levou as suas experiências no laboratório a poemas de escrita simples, mas evocativa. “O sonho comanda a vida”, escreveu, e esse sonho era a ciência.”

Desde cedo, a criança de 11 anos que ousava querer terminar Os Lusíadas que via como inacabados, debatia-se com essas duas paixões. Rómulo e António cresceram então como dois amigos: Rómulo foi um distinto investigador e professor de Físico-Química, analisando com critério os elementos entre os bicos de Bunsen e copos de precipitação. Escreveu compêndios escolares da disciplina, transmitiu ciência aos mais novos e foi pedagogo até de adultos com colaborações em publicações e bibliotecas científicas. Mas entrou então António Gedeão, poeta com cabeça de químico e homem que se apresentou com Movimento Perpétuo.

No meio da ditadura, deixou com “Pedra filosofal” palavras que contrariavam a opressão do regime e apelavam a novos caminhos. O seu poema “Lágrima de preta” é um exemplo de como usar a limpeza dos pressupostos científicos para arrumar o lixo do preconceito, quando conclui, após recolha e experiência, como mandam os trâmites científicos:

Encontrei uma preta

que estava a chorar,

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar


Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.


Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito transparente.


Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.


Ensaiei a frio,

experimentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é costume:


Nem sinais de negro,

nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)

e cloreto de sódio

Fonte [consultado em 24/11/2024]


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