“Nasceu Rómulo, como o lendário fundador da cidade de Roma, mas foi como António Gedeão que levou as suas experiências no laboratório a poemas de escrita simples, mas evocativa. “O sonho comanda a vida”, escreveu, e esse sonho era a ciência.”
Desde cedo, a criança de 11 anos que ousava querer terminar Os Lusíadas que via como inacabados, debatia-se com essas duas paixões. Rómulo e António cresceram então como dois amigos: Rómulo foi um distinto investigador e professor de Físico-Química, analisando com critério os elementos entre os bicos de Bunsen e copos de precipitação. Escreveu compêndios escolares da disciplina, transmitiu ciência aos mais novos e foi pedagogo até de adultos com colaborações em publicações e bibliotecas científicas. Mas entrou então António Gedeão, poeta com cabeça de químico e homem que se apresentou com Movimento Perpétuo.
No meio da ditadura, deixou com “Pedra filosofal” palavras que contrariavam a opressão do regime e apelavam a novos caminhos. O seu poema “Lágrima de preta” é um exemplo de como usar a limpeza dos pressupostos científicos para arrumar o lixo do preconceito, quando conclui, após recolha e experiência, como mandam os trâmites científicos:
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio
Fonte [consultado em 24/11/2024]
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